sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

O nosso município

O nosso município


Diariamente somos bombardeados pela comunicação, através de seus múltiplos e eficazes veículos com flechadas que vem de todos os lugares em direção ao nosso coração, fabricando novos desejos: compre isto que é bom, consuma aquilo que lhe deixará mais feliz. Assim, vamos amontoando dentro de casa muitas coisas que acabamos usando pouco ou quase nada.



Há algum tempo, presenciei dentro de um supermercado, um diálogo interessante entre um jovem casal. Acontece que, há poucos minutos, o serviço de som daquele hiper-mercado havia anunciado que faria uma bela promoção; daquelas imperdíveis. Ele, o jovem, e todos que ouvíamos aquelas tentadoras provocações, ficamos ouriçados. “Atenção, atenção, é agora. Prestem bastante atenção!” A cada intervenção daquela voz, os olhos dos condutores e condutoras de carrinhos ficavam mais arregalados. Foi quando veio a grande notícia: “No corredor perto das frutas, a promoção é... A grande promoção é... Salsicha!!!”.



Foi aquele alvoroço no corredor. O trânsito ficou congestionado dentro daquele mega mercado. Passado alguns minutos, até a próxima promoção, lá vem o jovem sorridente mostrar à sua esposa o carrinho cheio de salsichas. Ela olhou para os lados e para ele, chegou bem pertinho e disse: “Meu bem, o que é isso, prá que tanta salsicha?”. Naquele instante, vi que ele ficou atônito e numa atitude de espanto, retrucou meio gaguejando: “Está barato, pensei na sua mãe, vamos guardar no frízer...” Ela respondeu bem humorada: “Poderemos também montar um açougue, não é mesmo! Meu bem volte lá, e devolva isso, agora!”.

Esta história retrata um pouco o quanto o consumismo nos consome: a minha salsicha, o meu carro, a minha casa, o meu quarto, as minhas coisas e o meu mundo. Desaprendemos não apenas usar o “nosso”, mas, conviver, partilhar, participar ficou distante. O que está na rua não é comigo – cuido apenas do meu quintal; a sujeira na praça não é comigo; o ponto de ônibus quebrado não me diz respeito. Público e privado se confundem.



Nestas eleições precisaremos aprender novamente um conceito básico da democracia: o bem comum. E todo bem público é comum a todos nós. A cidade é de todos que nela mora, trabalha, estuda e sonha. O município é nosso. O quintal (zona urbana e rural) do município é de todos munícipes. Assim como quero cuidar bem do meu barracão, apartamento, casa devo fazer também com a cidade. E mais, precisamos nos reconhecer parte do município, que convive nele – assim seremos partícipes, resgatando o sentido de pertença ao local, à comunidade.



É uma ilusão pensar que a política é para os políticos, como querem que pensemos. E enquanto continuarmos confundindo “o meu” com “o nosso” interesse no município, o momento eleitoral servirá apenas de despolitização. Aqueles que nos iludem com gastança e compra de voto, continuarão defendendo os interesses deles e de quem financiou sua campanha.



Portanto, somos co-responsáveis pelo destino do nosso município. Pense bem antes de correr atrás da “salsicha”, ou seja, antes de se deixar levar pelas propagandas mirabolantes e encantadoras dos/as candidatos/as feito produtos de consumo rápido; conheça as propostas, questione, eleja e acompanhe o mandato daquele/a que você escolheu para lhe representar na Câmara Municipal e Prefeitura.



Lembre-se sempre que: o/a escolhido/a não pode ser apenas o “seu ou sua” candidato/a, mas nosso/a representante. O exercício do mandato deve ser voltado ao interesse publico, ao bem comum do nosso município. Eu sei que não está fácil, mas é sempre desafiador procurar agulha no palheiro – exige paciência, acuidade, persistência, cuidado; procure até encontrar e valerá a procura, bem como, os quatro anos que se seguirão.



Neste momento, onde impera a não-política, não temos outra alternativa, senão, começar de novo. Separando o joio do trigo, ou seja, separando o meu (exclusivo) do nosso interesse coletivo.


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